O papel do pai na família que se transforma

cristoforo

 

 “Il ruolo del padre nella famiglia che cambia” di Eugenio Pelizzari

Il testo (in portoghese, e a seguire, in italiano) dell’intervento dell’Autore in occasione della Settimana Nazionale della Famiglia, dedicata al tema “A fraternidade na familia” (“La fraternità nella famiglia”)

Minas Novas (Minas Gerais – Brasile) – 19 agosto 2006 

 O papel do pai na família que se transforma

Foi com muito prazer que aceitei o convite do Frei Natalino para dizer duas palavras em ocasião da Semana Nacional da Família. Todos nós sabemos o quanto a família hoje se encontra em dificuldades e sob ataque de todas as partes. O tema é, portanto, de grande importância.
Antes de entrar propriamente no assunto, gostaria de dizer que fiquei um tanto perplexo em relação ao título dado a esse encontro. Não tenho a intenção, obviamente, de colocar em dúvida a importância da fraternidade e da amizade no âmbito familiar. O que me pergunto é se, nos dias de hoje, falar de fraternidade no interno da família seja útil ou se, ao contrário, possa confundir ainda mais as coisas, ao invés de esclarecê-las
Talvez o que a família de hoje necessita não é tanto de fraternidade, que apresenta o risco de fazer com todos pareçam iguais, confundindo os papéis, mas exatamente de discutir quais são esses papéis dentro da família.
Inspirado também pela bela homilia de Frei Natalino no domingo passado, dia dos Pais, gostaria de discutir brevemente em seguida sobre o papel do pai em uma família e em uma sociedade que estão sendo submetidas a uma grande transformação.

A crise da figura paterna

Que a figura paterna esteja em crise é visível aos olhos de todos. Cada vez mais se fala do “pai ausente”, mas pouco se diz ou se questiona sobre os motivos que levaram a essa ausência, limitando-se a apontar o dedo contra a irresponsabilidade de alguns pais que, de modo injustificado, com um comportamento certamente condenável, abandonam a mulher, e, sobretudo, os filhos.
Mas esse é somente um dos aspectos. Muitas vezes os pais estão ausentes da família por motivos alheios à própria vontade. Penso no caso do pai expulso da família: na Itália, cerca de 75% das separações é pedida pela mulher, sem que haja a necessidade de um motivo concreto para a separação; e em muitos desses casos os pais além de ficarem privados da casa em que habitavam ficam também privados da possibilidade de freqüentar os filhos. Penso também no caso do pai que deve se separar da família por motivo de trabalho, ao pai vítima de um constante ataque por parte da televisão e dos jornais, sem citar uma legislação que há algumas décadas funciona apenas em uma direção. Sei que é muito pouco “politicamente correto” dizer essas coisas, mas eu as digo porque são reais.
Pensem bem: nos programas e comerciais de televisão ou nos artigos de jornal o pai é apresentado como um idiota, incapaz de ser autônomo, sem autoridade, ridículo, quando não é um estuprador ou um criminoso.
E já pensaram em quantos termos ligados à função paterna assumiram hoje uma conotação fortemente negativa: pai-patrão, pai ausente, patriarcado, paternalismo, etc.
Estamos, em suma, diante de uma contradição: por um lado se recriminam os pais (e como disse antes, muitas vezes com razão): são desinteressados, têm pouca sensibilidade, empatia e autoridade com os filhos. Por outro lado, porém, são anos que se teoriza sobre a não necessidade do pai, até mesmo a nível reprodutivo, considerando que o papel da mãe e do pai podem ser trocados entre si: a ausência, portanto, de uma função específica do pai, que não se sabe bem porque deveria existir e que coisa poderia fazer que a mãe não seja capaz de fazer. Porém, não foi sempre assim...

As causas da crise

Não conheço a fundo a realidade brasileira; portanto citarei exemplos do que ocorre na realidade italiana e européia, além da societade americana, que há muito tempo estuda o assunto.

Embora seja impossível percorrer aqui todas as etapas que resultaram na situação atual, podemos, porém, com uma certa facilidade, individuar as origens desse progressivo esvaziamento da figura paterna e que residem naquilo que foi chamado “processo de secularização”.
Dieter Lenzen afirma, em um livro de 1994 ( Em busca do pai - Alla ricerca del Padre, Red, 2000) que o momento da mudança ocorreu com a Reforma Protestante, quando pela primeira vez na história se introduz uma separação radical entre o Reino de Deus e o Reino da Terra, conferindo a esse último de maneira exclusiva a experiência matrimonial e familiar.
Claudio Risé, jornalista e psicoterapeuta que há muitos anos estuda na Itália a questão masculina e paterna, (um livro dele, “Ser homens: a virilidade em um mundo feminilizado”, também foi publicado no Brasil pela Editora Lyra), afirma que, a partir dessa separação entre Reino de Deus e o Reino da Terra, a imagem do pai como “representante social da lei do Pai Divino” e de “Guardião da família através de uma ordem natural e simbólica divina” desapareceu (Risè, Il padre l’assente inaccettabile. San Paolo 2003). E’ a partir desse momento que o papel e a função do pai começam a perder sentido.
As funções pedagógicas e educativas não são mais reconhecidas como próprias do pai, mas se tornam funções do âmbito materno. Em paralelo a isso, agem as exigências do processo produtivo que, como lembrava Frei Natalino durante a homilia, limitam o pai a uma função estritamente econômica. Em pouco tempo também a mãe perde essas funções que passam a ser exercidas por uma série de atores e instituições, onde a presença da figura masculina simplesmente desaparece (escola, organizações de lazer, etc).
Um outro aspecto ligado à época contemporânea é a dramática desvalorização do trabalho manual.
Em um romance de David Herbert Lawrence (O arco-iris – L’Arcobaleno. Mondadori 1991) se fala desse pai minerador que volta para casa sujo e cansado depois do dia de trabalho duro. O pai tira a roupa para tomar banho em uma tina e o filho olha admirado o corpo forte, musculoso e sujo da fadiga do trabalho. Nesse momento a mãe fala com o filho dizendo-lhe: “Olha o seu pai, olha como está sujo...você não será come ele, você vai fazer um trabalho limpo, você vai ser um funcionário...” Também desse modo se liquida com a figura do pai.
O processo de secularização dá início a marginalização do pai. Em seguida, a afirmação da sociedade de consumo – completamente centrada na satisfação de necessidades artificialmente induzidas – continua a obra. As novas ideologias, que nascem de exigências e situações mais que legítimas mas que causam um evidente efeito destrutivo sobre a família, estão completando a obra. Estou falando do feminismo.
Vamos pensar nas várias leis sobre o divórcio, feitas para resolverem situações insustentáveis mas que foram usadas para satisfazer interesses corporativistas e econômicos, se transformando em lucrosas fábricas de infelicidade, trabalhando sistematicamente contra os pais, tirando deles a possibilidade de manter uma relação psíquica, concreta e quotidiana com os filhos.
Pensemos sobretudo nas várias leis sobre o aborto. Em nome do direito à auto-determinação das mulheres se eliminou completamente o pai de qualquer decisão em mérito ao processo reprodutivo da espécie. Na Itália a lei 194, que introduziu o aborto, permite que o pai legítimo, legalmente casado, possa não ser informado da decisão da esposa de abortar o filho que ele ajudou a conceber. E que tipo de autoridade poderá ter um pai sobre os futuros filhos em uma sociedade que retirou dele até a possibilidade de se pronunciar sobre esse aspecto tão crucial do próprio destino humano?

A função do pai

Pai e mãe, são ambas figuras essenciais mas não intercambiáveis. Ambos exercem sobre os filhos funções materiais, simbólicas e psíquicas distintas e que devem ser preservadas.
A psicologia nos ensinou que nos primeiros anos de vida da criança ela vive uma situação quase simbiótica com a mãe; precisa dela para ter um desenvolvimento físico, mas sobretudo psíquico, saudável É a mãe que o leva dentro de si, que lhe dá a luz, o amamenta, que o acude e que lhe ensina uma coisa que não é banal: lhe ensina o que é ser amado e, como conseqüência, o ensina no futuro a receber e dar amor. O pai nessa fase não é igualmente importante, embora desenvolva uma série de funções cruciais, sobre as quais não irei falar no momento.
O pai se torna indispensável no momento no qual se torna necessário interromper essa fusão entre a mãe e o filho (ou filha), para introduzí-los – de maneira diferente – no mundo e na vida social. Em tal sentido podemos dizer que o pai é o portador da primeira ferida, desse corte, certamente doloroso, mas indispensável para o crescimento dos filhos e para inseri-los na sociedade. É esse o papel essencial do pai, o qual a mãe não pode exercer; e é, ao mesmo tempo, uma função simbólica e concreta, que todas as sociedades previram, elaborando ritos de iniciação complexos, nos quais uma ferida, leve mas física (a quebra de um dente, um corte na pele, etc) sempre foi feita para que se desenvolvesse a capacidade de suportar futuras feridas – não somente físicas – que de certo a vida lhes causará.
A capacidade de dizer NÃO, de estabelecer e fazer respeitar as regras - justas para si e para os outros- de deixar que o filho cresça, que procure a própria estrada e, uma vez achada, abandone a casa familiar para segui-la, mesmo quando essa estrada é muito diferente daquela que os pais imaginavam para o filho; tudo isso faz parte da função paterna. E, do mesmo modo, a capacidade de acolher o filho quando, como às vezes acontece, esse erra mas decide pela reconciliação com a família de origem, como admiravelmente contado na parábola do filho pródigo.

As consequências da ausência do pai


Hoje nós estamos percebendo que a teorizada sociedade sem pai não é o paraíso sem violência e de paz que se esperava.
O aumento das separações e dos divórcios, a afirmação de uma cultura fortemente anti-paterna, o desenvolvimento de técnicas de engenharia genética que tendem a excluir o pai do processo reprodutivo estão favorecendo o surgimento de um pequeno exército de jovens que crescem com uma relação extremamente lábil com o pai e que, como dissemos antes, são introduzidos na vida social pelas mães ou por outras figuras femininas. Mas mesmo a mãe mais atenta e cosciente da importância da complementariedade dos papéis dos pais na construção da identidade do filho, nada poderá fazer com relação à transmissão do patrimônio instintual, da cultura material e simbólica própria do sexo masculino, pelo simples motivo que ela não os possui. Tal fato determina uma fragilização da identidade masculina que tem como efeito não apenas a produção de infelicidade, também para as mulheres, mas é que fonte de tremendas patologias sociais.
A ausência do pai é fonte de patologias e distúrbios sociais gravissimos. Infelizmente na Itália – e creio também no Brasil – faltam estatísticas que associem a ausência do pai à manifestação de fenômenos de desvios e degrado social.
Nos Estados Unidos onde , ao contrário, esse fenômeno vem sendo estudo há muitos anos e existe um termo especifico para representar a situação dos filhos separados dos pais: Fatherless, que significa "sem pai" .
Nos USA o problema se tornou explosivo. Já em 1995, o ex-presidente Bill Clinton, discursando na Universidade do Texas sobre a discriminação racial, no final do seu discurso afirmou: "O maior problema social na nossa sociedade poder ser considerado o aumento da ausência do pai das casas de seus filhos porque essa ausência tem consequências sobre muitos outros problemas sociais".
Atualmente cerca de 50% das crianças americanas não vivem com o pai biológico.
Dados estatísticos oficiais nos dizem que as consequências desta separação são dramáticas:
· 63% dos jovens que se matam, se suicídam, vêm de famílias sem pai (U.S. D.H.H.S., Bureau of the Census);
· 90% de todos os meninos e meninas de rua (estamos falando dos Estados Unidos, não do Brasil) vêm de famílias sem pai;
· 85% de todas crianças com distúrbios do comportamento são originadas de famílias sem pai (Center for Diseases Control);
· 80% dos estupradores vêm de famílias sem pai (Criminal Justice and Behavior, Vol. 14, p. 403-26, 1978!!);
· 71% das crianças que abandonam a escola vêm de famílias sem pai (National Principals Association Report on the State of High Schools);
· 75% dos adolescentes atendidos nos Centros antidroga (chemical abuse centers) vem de casas sem pai (Rainbows for all God's Children);
· 80% dos jovens non centros correcionais vem de casas sem pai (U.S. Dept. of Justice, Special Report, Sept. 1988);
· 85% dos jovens presos cresceu em casas sem pai (Fulton Co. jail population, Texas Dept. of Corrections 1992).
· 69% das crianças abusadas sexualmente vivem em casas onde o pai nao é presente.
Afirma um caro amigo, Armando Ermini, que há anos se ocupa comigo da questão: “A incapacidade de suportar a perda ou a proibição, a renúncia consciente em vista de projetos mais amplos (em favor da satisfação súbita da necessidade, que tem que ser satisfeita a qualquer custo), a dificuldade em se relacionar com as regras e com a lei, o oscilar contínuo entre a submissão sem condições e a explosão de uma violência e de uma agressividade sem controle e sem sentido, até contra si mesmos, são todos sintomas patológicos de uma pessoa que sofreu a falta da presença e da orientação, afetuosa e severa, do pai. Mais em geral, também quando as patologias não se traduzem em crimes, podemos observar uma perda de vitalidade adulta, do prazer da autonomia, do gosto pelo desafio, que se manifesta, por exemplo, com o ficar o mais tempo possível na casa dos pais, ou até em um preocupante aumento da esterilidade: quase 40% dos homens ocidentais não podem mais fecundar”.

Inverter a tendência

Acredito que as reflexões e os dados acima expostos sejam suficientes para afirmar com força a necessidade de uma inversão de tendência. Esta inversâo deverá se refletir em uma tomada de consciência da importância social da paternidade e em uma legislação que valorize a figura paterna, ao invés de contribuir para a sua liquidação. Mas será necessária, antes de mais nada, uma maior conscientização dos pais, uma maior participação deles no crescimento dos filhos dentro da família e na sociedade. Não se trata de um direito a ser reinvidicado mas sim de um dever a ser cumprido pelos pais, porque a partir desse empenho dependerá a felicidade das futuras gerações.

Velhas imagens para um novo pai

Muitas são as figuras paternas positivas que a tradição nos oferece e que ainda podemos utilizar. Gostaria de lembrar duas delas.

A primeira é representada pelo gesto de Heitor, descrito no poema Iliade, de Homero; aquele gesto que muitos pais, talvez inconscientemente mas por isto ainda mais significativamente, fizeram durante milhares de anos, isto é, lançar para o alto o filho. É um gesto que mais uma vez nos mostra como as expressões de amor materno e paterno, ambos indispensáveis, são todavia diferentes.

A mãe pega no colo o filho, o abraça e, com amor, o protege.

O pai pega o filho, o levanta e, com amor, o lança para o alto, em direção ao céu. É um gesto essencialmente masculino, que talvez represente a essência da paternidade. Citando mais uma vez Armando Ermini: “Uma linha vertical da terra ao céu, que porém não se interrompe, simbolizando a união entre a matéria e o espírito”.

Mas a imagem que particularmente amo é a de um Santo da tradição católica que, embora não seja reconhecido oficialmente, é cultuado na Europa e no também no Brasil. Refiro-me a San Cristoforo – São Cristovão, cuja história vocês bem conhecem.

Cristovão era um jovem que, arrependido da vida não exatamente exemplar que tinha tido, decide de colocá-la a serviço dos outros, ajudando-os a atravessar um rio de águas turbulentas.
Um dia aparece um menino que lhe pede para ser levado para a outra margem do rio. O bom Cristóvão o coloca nos ombros e, leve como é, começa a atravessar o rio tranquilamente. À medida que avança, o menino se torna cada vez mais pesado, ao ponto que Cristovão acha que não vai aguentar, que vai afogar. Uma vez alcançada a margem, coloca o menino no chão e diz: Caramba menino, à medida que atravessava o rio você se tornava cada vez mais pesado, parecia a um certo momento de carregar o peso do mundo nas costas”. O menino, que era Jesus, respondeu “Na verdade você carregou nas costas o peso do mundo”.

Cristovão assume a tarefa de levar o menino de uma margem à outra, de uma vida para a outra vida. Assume a responsabilidade, arrisca a própria vida por isso e desse modo descobre o sacro que existe em cada criança, em cada vida; o sacro que existe na passagem da infância à vida adulta e, por fim, na própria missão de homem.

Enfim, com essa imagem, que nos lembra fortemente outra função essencial que eu vejo para os pais de hoje, ou seja, aquela de ser capaz de uma paternidade social para com as crianças que ficaram privadas, por diferentes motivos, da presença do próprio pai, gostaria de terminar essa minha reflexão agradecendo a todos pela atenção.

Eugenio Pelizzari, Minas Novas, 19 de agosto de 2006

IL RUOLO DEL PADRE NELLA FAMIGLIA CHE CAMBIA

È con grande piacere che ho accolto l’invito di Frei Natalino ad offrirvi questa comunicazione in occasione della settimana nazionale della famiglia. Sappiamo tutti quanto la famiglia oggi sia in difficoltà e sotto attacco di forze disgreganti. Il tema è dunque molto importante.
Per entrare subito nel tema , devo però dire che ho qualche perplessità sul titolo dato a questo appuntamento. Non voglio naturalmente mettere in discussione l’importanza della fraternità e dell’amicizia in ambito familiare. Quello che mi e vi chiedo è se, di questi tempi, impostare il discorso sul tema della famiglia in termini di fraternità sia utile o se, al contrario, non possa contribuire a creare ulteriore confusione, invece che a favorire maggiore chiarezza.
Forse quello di cui si sente bisogno nella famiglia di oggi non è tanto della fratellanza, che rischia di rendere tutti uguali confondendo i ruoli, ma di trovare il tempo per riflettere appunto su questi ruoli, che indubbiamente stanno cambiando. Sollecitato anche dalla mirabile omelia di Frei Natalino, di Domenica 13, “Festa del papà”, vorrei soffermarmi brevemente, qui di seguito, sul ruolo del padre all’interno di una famiglia e di una società, come quella attuale, in profonda trasformazione.

La crisi della figura paterna

Che la figura paterna sia in crisi è sotto gli occhi di tutti. Si parla sempre più di “padre assente”, ma poco si dice e si indaga sui motivi che hanno portato a questa assenza, limitandosi per lo più a puntare il dito contro l’irresponsabilità di alcuni padri che del tutto ingiustificatamente, con un atteggiamento certo da biasimare, abbandonano la moglie e, soprattutto, i figli.
Questo però è solo uno degli aspetti all’origine del problema. Molte volte il padre è infatti assente anche per motivi che poco hanno a che fare con la sua volontà. Penso al padre ”espulso” dalla famiglia: in Italia in circa il 75% dei casi la separazione è richiesta dalla moglie, senza che ci sia alcun motivo concreto, alcuna mancanza o colpa commessa dal padre, che si vede privato, oltre che della casa, della possibilità di frequentare i propri figli; penso poi al padre che deve allontanarsi troppo spesso per lavoro, al padre vittima di un costante attacco da parte della televisioni e dei giornali, nonché di una legislazione da alcuni decenni a senso unico. E’ molto poco politicamente corretto dire queste cose, ma dobbiamo segnalarle “nella loro verità”.
Pensateci bene: non esiste trasmissione televisiva, pubblicità, o articolo di giornale in cui il padre non sia presentato sostanzialmente come uno stupido, incapace di autonomia, privo di autorità, ridicolo, quando non stupratore o criminale... E pensate a quante espressioni, legate alla funzione paterna, hanno finito con l’assumere oggi connotazioni o giudizi di valore fortemente negativi: padre-padrone, padre assente, patriarcato, paternalismo...
Siamo insomma di fronte ad una contraddizione. Da un lato si rimproverano ai padri – come dicevo, spesso a ragione – disimpegno, assenza, poca sensibilità ed empatia verso i figli, scarsa autorevolezza. Dall’altro lato però, sono anni che si teorizza la non necessità del padre – oggi anche e addirittura a livello riproduttivo - l’intercambiabilità dei ruoli materno e paterno, e la mancanza, dunque, di un “funzione specifica” del padre, figura che non si capisce bene perché ci dovrebbe essere e cosa dovrebbe fare che non sia in grado di fare la madre. Eppure non è sempre stato così.

Le cause della crisi

Non conosco a fondo la realtà brasiliana su questo tema; non posso dunque che far riferimento alla realtà italiana ed europea, nonché a quella americana, da decenni ben documentata.
Se è impossibile ripercorrere qui tutte le tappe che hanno portato alla situazione attuale, possiamo però con una certa facilità individuare le origini di questo progressivo svuotamento della figura paterna e che risiedono in quello che è stato chiamato il “processo di secolarizzazione”. Dieter Lenzen sostiene, in un libro del 1994 (Alla ricerca del Padre, Laterza) che il punto di svolta, in questo processo di annichilimento del padre, si è verificato con la Riforma Protestante, che operò per la prima volta nella storia, una separazione netta tra Regno di Dio e Regno del Mondo, e la assegnazione in maniera esclusiva a quest’ultimo dell’esperienza matrimoniale e familiare.
Claudio Risé, studioso e psicoterapeuta che si occupa da anni in Italia della “questione maschile e paterna” (un suo libro “Essere uomini”, Red, 2000, è stato tradotto anche in Brasile), sostiene che con questa separazione sia venuta meno anche l’immagine del padre come “rappresentante sociale della legge del Padre Divino” nonché quella di “custode familiare per conto dell’ordine naturale e simbolico divino” (C. Risè, Il padre, l’assente inaccettabile, San Paolo, 2003). È a partire da questo momento che, secondo lo studioso italiano, il ruolo e la funzione del padre cominciano a perdere di senso. Le funzioni pedagogiche ed educative non vengono più riconosciute come proprie del padre, ma diventano proprie dell’ambito materno o istituzionale (si pensi alla scomparsa della figura in sé paterna del maestro e la sua sostituzione attraverso l’istituzione scuola). Parallelamente a ciò agiscono le esigenze del processo produttivo che, come ricordava anche Frei Natalino, rinchiudono il padre dentro una funzione prettamente economica o, esclusivamente, di provider. Del resto, ai nostri giorni, anche la madre ormai viene espropriata delle sue specifiche funzioni che vengono ora svolte da tutta una serie di figure ed istituzioni dove il principio maschile semplicemente scompare (scuola, organizzazioni del tempo libero, ecc.).
Un altro fenomeno, riguardante lo svilimento della paternità, connesso all’affermarsi delle caratteristiche economiche e produttive dell’epoca contemporanea, è la drammatica svalorizzazione del lavoro manuale. In un romanzo di Lawrence (L’arcobaleno, Mondadori, 1991) si racconta di un padre minatore che torna a casa sporco e affaticato dal duro lavoro. Si spoglia per fare il bagno nella tinozza. Il figlio, presente, guarda ammirato questo corpo forte, muscoloso, sporco della fatica del lavoro. È a questo punto che la madre si rivolge al figlio dicendogli: “guarda tuo padre, guarda come è sporco... tu non diventerai mai come lui, tu farai un lavoro pulito, farai l’impiegato...”. Anche così, svalutando il corpo maschile e il tipo di lavoro, appunto manuale, che ha trasformato quel corpo, si è proceduto a liquidare il padre.
Il processo di secolarizzazione dà quindi il via alla marginalizzazione della figura paterna; l’affermarsi della società dei consumi, completamente centrata sul soddisfacimento di bisogni, peraltro spesso artificialmente creati, prosegue l’opera. Nuove ideologie, pur partite da esigenze ed istanze più che legittime, ma di cui è ormai evidente l’effetto distruttivo sulla famiglia e sul padre, supportate in ciò da una legislazione ottusa ed a senso unico, stanno completando l’opera. Pensiamo alle varie legislazioni sul divorzio che, nate per risolvere situazioni insostenibili, sono state applicate per interessi corporativi ed economici in autentiche, lucrose fabbriche di infelicità, lavorando sistematicamente contro i padri (e in realtà anche contro le donne), togliendo loro la possibilità di mantenere un proficuo rapporto psichico e materiale, concreto, quotidiano con i figli. Pensiamo poi alle varie legislazioni sull’aborto. In nome dell’autoderminazione della donna si si è proceduto ad escludere il padre da ogni decisione in merito al processo riproduttivo umano. In Italia la legge 194/98 che ha introdotto l’aborto consente che il padre legittimo, di una coppia regolarmente sposata, possa non essere neppure informato della decisione della moglie di abortire il figlio che ha contribuito a concepire. E quale autoritevolezza e importanza potrà mai avere sui figli, nella società, un padre cui è stata tolta la parola addirittura su questo aspetto cruciale del prorio destino umano?

La funzione del padre

Padre e madre: figure entrambe essenziali ma non intercambiabili. Essi svolgono verso i figli compiti e funzioni, materiali, simboliche e psichiche distinte, e che vanno preservate. Tutta la psicologia ci ha insegnato che nei primi tre anni di vita del figlio, esso vive in una situazione quasi simbiotica con la madre; ha bisogno di lei, non può farne a meno per il suo sano sviluppo futuro, fisico ma, soprattutto, psicologico. È la madre che lo porta in grembo, che lo partorisce, lo allatta, lo accoglie e lo cura insegnandogli una cosa fondamentale: l’amore che anch’egli in futuro, avendone vissuto l’importanza, saprà donare accogliendo a sua volta la vita.
Il padre in questa prima fase non è particolarmente importante, pur svolgendo una serie di funzioni di sostegno, sulle quali qui non mi soffermerò in questa sede. Il padre diventa indispensabile nel momento in cui si rende necessario interrompere la fusione tra madre e figlio (o figlia), per iniziarli – in maniera differente - al mondo ed alla vita sociale. In tal senso possiamo dire che il padre è il portatore della prima ferita, di quel taglio certo doloroso ma indispensabile alla crescita dei figli ed al loro inserimento nella comunità degli uomini. È questo il suo ruolo essenziale, che la madre non può svolgere, e che è al contempo una funzione simbolica e concreta che tutte le società fin dalle epoche remote hanno previsto elaborando complessi riti iniziatici, nei quali una ferita, lieve ma fisica (la rottura di un dente, un’incisione della pelle ecc.) sempre viene inflitta, affinché si sviluppi la capacità di sopportare le future ferite – non solo e non tanto fisiche - che di certo la vita infliggerà.
La capacità di dire NO, di stabilire e far rispettare delle regole – giuste per sé e per gli altri - di lasciare che il figlio cresca, cerchi la sua strada e, trovatala, abbandoni la casa famigliare per seguirla, anche quando questa strada sia molto diversa da quella per lui immaginata dai genitori. E, certo, anche la capacità di riaccoglierlo se, come a volte nella vita capita, il figlio – dopo aver sbagliato –decide di riconciliarsi con la famiglia che ha lasciato, come mirabilmente racconta la parabola del figliol prodigo.
Le conseguenze dell’assenza paterna
Oggi ci stiamo accorgendo che la teorizzata società senza padre esiste veramente e non è quel paradiso senza violenza e di pace che si era sperato. L’aumento delle separazioni e dei divorzi, l’affermarsi di una cultura fortemente antipaterna, lo sviluppo di tecniche di ingegneria genetica che tendono ad escludere il padre dallo stesso processo riproduttivo (o comunque di permettere la generazione umana al di fuori di una relazione fisica ed emozionale), stanno favorendo l’emergere di un sempre più numeroso esercito di giovani che crescono con una relazione estremamente labile con il padre e che, come dicevamo, vengono iniziati alla vita sociale dalla madre o da altre figure femminili/istituzionali. Ma anche la madre più attenta e consapevole dell'importanza della complementarità dei ruoli genitoriali nella costruzione della identità, nulla potrà fare in merito alla trasmissione del patrimonio istintuale, della cultura materiale e simbolica propria del maschile, per il semplice motivo di non possederli. Tale fatto determina una fragilizzazione dell'identità maschile che ha come effetto non solo la produzione di infelicità sicure (anche per le donne), ma anche tremende patologie sociali.
L’assenza del padre è fonte di patologie e disagi sociali gravissimi. Purtroppo da noi – e credo anche in Brasile – mancano statistiche che correlino l’assenza del padre e il manifestarsi di fenomeni di devianza e degrado sociale.
Negli Stati uniti, al contrario, questo fenomeno è allo studio da decenni.
Negli Stati Uniti esiste un termine per rappresentare la situazione di tali figli privati della figura paterna: Fatherless, "senza padre" appunto.
In America il problema è ormai diventato esplosivo. Già nell'ottobre 1995, l’allora presidente Bill Clinton, parlando all'università del Texas sulla questione razziale, alla fine del suo discorso affermò: "Il maggior problema sociale nella nostra società può essere considerato l'aumento dell'assenza dei padri dalle case dei loro figli, perché ciò si ripercuote su moltissimi altri problemi sociali".
Attualmente circa il 50% dei bambini americani non vive con il padre biologico. Fonti ufficiali americane ci dicono che le conseguenze di questa separazione sono drammatiche:
· il 63% di giovani suicidi proviene da case senza padre (U.S. D.H.H.S., Bureau of the Census);
· il 90% di tutti i bambini di strada (stiamo parlando degli Stai Uniti, non del Brasile) proviene da case senza padre;
· l'85% di tutti i bambini che esibiscono disordini del comportamento provengono da case senza padre (Center for Diseases Control);
· l'80% dei violentatori provengono da famiglie senza padre (Criminal Justice and Behavior, Vol. 14, p. 403-26, 1978!!);
· il 71% degli abbandoni scolastici provengono da case senza padre (National Principals Association Report on the State of High Schools);
· il 75% di tutti gli adolescenti assistiti nei centri antidroga (chemical abuse centers) provengono da case senza padre (Rainbows for all God's Children);
· l'80% di giovani nei riformatori proviene da case senza padre (U.S. Dept. of Justice, Special Report, Sept. 1988);
· l'85% di tutti i giovani detenuti nelle prigioni è cresciuto in case senza padre (Fulton Co. jail population, Texas Dept. of Corrections 1992).
· il 69% dei bambini vittime di abusi sessuali vivono in case dove il padre non c’è.
In un suo scritto, Armando Ermini - un caro amico che da anni si occupa come me della questione - afferma: “L’incapacità di sopportare la perdita o la negazione, l’incapacità alla rinuncia consapevole in vista di progetti di più ampio respiro (in favore della soddisfazione istantanea del bisogno, da perseguire a qualsiasi costo), la difficoltà a rapportarsi colla norma, l’oscillazione fra sottomissione incondizionata ed esplosione incontrollata di violenza ed aggressività, anche contro se stessi, sono tutti sintomi patologici di una persona cui è mancata la presenza e la guida, affettuosa e severa, del padre. Più in generale, anche quando le patologie non sfociano in fatti di interesse penale, possiamo osservare una perdita complessiva di vitalità adulta, del gusto per l’autonomia e per la sfida, che si manifesta, ad esempio, nel rimanere più a lungo possibile nella casa genitoriale, o in un preoccupante aumento della sterilità, per cui quasi il 40% dei maschi bianchi occidentali è incapace di fecondare” .

Invertire la tendenza: far tornare il padre

Credo che le riflessioni ed i dati sopra esposti siano sufficienti per affermare con forza la necessità di una inversione di tendenza: è necessario il ritorno del padre. Tale inversione dovrà certo riflettersi in una presa di coscienza dell’importanza sociale della paternità ed in una legislazione che valorizzi la figura paterna invece di favorirne la liquidazione. Ma ancora prima sarà necessaria una nuova consapevolezza dei padri stessi, una loro maggior partecipazione nella crescita dei figli nella famiglia e nella società. Non si tratta, si badi di bene, di un diritto da rivendicare, ma di un dovere da adempiere, perché da quell’adempimento dipenderà la felicità delle generazioni future.

Vecchie immagini per un nuovo padre

Molte sono le figure che la tradizione ci offre della funzione dell’immagine paterna e che ancora possono essere utilizzate come rappresentazione simbolica dei compiti che il “nuovo padre” nella famiglia che cambia può e deve svolgere.. Voglio rammentarne un paio.

La prima riporta direttamente al gesto di Ettore, raccontato nel poema epico dell’Iliade di Omero; quel gesto che tanti padri hanno, forse inconsapevolmente ma per ciò ancor più significativamente, compiuto per migliaia di anni. Lo slancio del figlio verso l’alto.... E’ un gesto che un’altra volta ci dice come l’accoglienza materna e paterna, entrambe indispensabili, siano tuttavia differenti.

La madre accoglie il figlio in seno, lo abbraccia, lo stringe a sé... con amore lo protegge.

Il padre prende il figlio sotto le ascelle, lo solleva e lo slancia verso l’alto, verso il cielo. E’ questo un gesto prettamente maschile che rappresenta forse l’essenza della paternità. Come dice ancora Armando Ermini: “Una linea verticale dalla terra al cielo, che tuttavia non si interrompe, a simboleggiare l’unione fra materia e spirito”.

Più ancora mi è cara la rappresentazione maschile di un Santo della tradizione cattolica che, pur non più riconosciuto dalla chiesa, è rappresentato, pregato e venerato in Europa ed anche in Brasile. Ho a casa una piccola collezione di statuette raccolte qui e in varie parti del mondo.
Si tratta di San Cristoforo, del quale conoscete bene la leggenda.

Cristoforo è un giovane che, pentitosi della propria vita, diciamo così, non proprio esemplare, decide di porsi al servizio degli altri, aiutandoli ad attraversare un fiume tumultuoso.
Un giorno si presenta a lui un bambinetto che gli chiede di essere portato verso l’altra sponda. Il buon Cristoforo se lo carica sulle spalle, leggero com’é, ed inizia ad attraversare il fiume. Mano a mano che avanza il bambino si fa sempre più pesante, al punto che Cristoforo pensa di non farcela e di annegare. Con grandi sforzi arriva alla riva e deposto il bambino per terra gli dice: “Accidenti ragazzino, man mano che proseguivo diventavi sempre più pesante. Mi è sembrato, ad un certo punto, di portare sulle spalle il peso del mondo”. Al che il bambino, che era il Cristo, risponde: “In realtà tu hai portato sulle spalle il peso del mondo”.

Cristoforo si fa carico di portare il bambino da una riva all’altra, da una vita all’altra. Se ne assume la responsabilità, rischia di perdere la vita per questo e, così facendo, scopre la sacralità di ogni bambino e di ogni vita, la sacralità di questo passaggio dalla vita infantile alla vita adulta ed, in definitiva, la sacralità della propria missione di uomo.

Ecco: su questa immagine, che richiama fortemente un’altra essenziale funzione che io vedo come necessaria nei padri di oggi, ovvero quella di essere capaci di una paternità sociale verso bambini e bambine prive – per diversi motivi – del proprio padre, su questa immagine, dicevo, mi piace concludere il mio intervento, ringraziando tutti per l’attenzione.

Eugenio Pelizzari, Minas Novas, 19 agosto de 2006

[12 settembre 2005]